sábado, 17 de setembro de 2016

(Um pouco da) minha trajetória com a escrita.

Em 2010, ou melhor no 2° vestibular de 2010, eu reprovei a redação. Nesta época eu prestava vestibular pra Ciência Política e achava que tinha perdido um semestre da minha vida, que tinha adiado em seis meses a minha entrada neste curso. Frustrada, me sentia completamente incompetente! Como eu que sempre gostei de escrever tinha reprovado a redação?

Nos meses seguintes ao resultado eu pensava diariamente como a minha vida seria diferente se eu tivesse ido bem naquela redação. Como a minha rotina diária seria outra, como meus estudos seriam outros, como estaria assistindo outras aulas e etc.. E realmente, se eu tivesse passado naquela redação, eu viveria alguma realidade paralela.

Naquela época eu achava que a reprovação e suas consequências eram muito ruins. O que é muito engraçado hoje em dia. Pois o que era encarado por mim como azar em 2010; em 2016 é visto como muita sorte! Que sorte não ter passado naquela redação! Claro, que não mudei de perspectiva do dia para noite.

Não ter passado naquele vestibular foi tão marcante que até hoje eu lembro o tema da redação do vestibular do 2°2010. Enquanto não lembro o tema da redação do 2° 2011 (que foi o vestibular que eu passei). Mas no fundo, lembrar ou esquecer estes temas, não são grande coisa. Apenas mostram que eu estava canalizando minhas energias em lugares equivocados.

Demorou um longo ano entre a reprovação e a aprovação no vestibular. De 2010 para 2011 várias coisas mudaram e acho sinceramente que a mais importante delas foi o curso: deixei pra lá a Ciência Política e descobri a Antropologia! Descobri que queria fazer essa disciplina e cursar suas matérias que pareciam bem interessantes! (E foram! E são!)

Pensar a minha trajetória com a escrita, de certa forma é repensar como a escrita influenciou a minha trajetória. Hoje, graduada em Antropologia, muito realizada com a minha formação até aqui. Penso como foi importante reprovar aquela redação do 2º2010. Um tropeço como este me trouxe literalmente até aqui.

Reprovar aquela redação foi importante para eu parar um pouco e repensar tudo que eu estava fazendo, repensar tudo que eu queria fazer. Me fez também perceber que gostar de escrever, não asseguraria que eu escreveria bem (de primeira). Aquele erro, me fez voltar a estudar português e também me deu a oportunidade de assistir aulas de Sociologia que me levaram até a Antropologia...

Nem só de erros foi traçada a minha trajetória, nela há acertos também (né). Porém, lendo os Truques da Escrita do Becker estes dias, tenho refletido (a partir das considerações de Becker) um pouco em como esconder ou omitir erros ou dificuldades, além de ser uma forma de não perceber a importância daquele momento de aprendizado, pode ser uma forma de aumentar o clima de insegurança para as colegas que acham que apenas elas têm dificuldade de escrever, seja com a redação do vestibular e/ou com a redação acadêmica.

Hoje em dia, eu não sei muito bem o que significa quando alguém diz que tem dificuldade de escrever. Mas eu sei, não apenas porque o Becker disse, que muito dessa dificuldade vem da romantização que se faz da atividade da escrita. Como se para escrever bem, fosse necessário escrever tudo da melhor forma possível logo na primeira vez.

Escrever bem, ou melhor ESCREVER, é muito mais sobre REESCREVER. Entretanto, isto não parece estar tão difundido pelo meio acadêmico e pré-vestibulandico. Sei que o livro do Becker é de 2015, e tive realmente muita sorte de tê-lo encontrado em uma grande crise durante a escrita da minha monografia. Eu adoraria ter lido ele e 2010. Ou em 2007, ou em 2001.

No capítulo 3 “A única maneira certa” o Becker fala que as escolas ensinam os estudantes que a redação é como uma “espécie” de teste: “(…) o professor passa o problema e você tenta resolver, e aí vai pro problema seguinte. Uma chance por problema. Refazer o teste é, de certa forma, ‘trapacear’(...)” (página 72), principalmente se há alguma orientação sobre como melhorar aquela redação.

Não me prolongarei no argumento de Becker neste trecho (que é uma falsa premissa de que existe uma resposta certa ou uma melhor maneira), que colabora para construir o argumento do capítulo (que é que não há uma única maneira de escrever); pois, o que eu gostaria ter conhecido antes, naquela época da redação de vestibular que reprovei era que TUDO BEM não ir bem em um texto que você escreveu em uma seleção e não teve a chance de reescrever.

Redações em vestibular talvez sejam muito mais sobre conseguir organizar ideias em um momento de pressão do que sobre escrever bem. A vida é muito mais densa que um vestibular, há novos/outros vestibulares e oportunidades! Na vida e na escrita não é preciso acertar na primeira vez, é possível reescrever o que deu errado, denotativamente e conotativamente.

Se permita reescrever, se permita reescrever sua trajetória, se permita reescrever sua trajetória com a escrita! Onde seus tropeços te levaram? Ou te levarão?

Por uma escrita afetiva e efetiva!
Cordialmente,
Andreza

Referência bibliográfica: Becker, Howard S. Truques da escrita: para começar e terminar teses, livros e artigos/ Howard S. Becker;tradução Denise Bottmann; revisão técnica Karina Kushnir. - 1.ed - Rio de Janeiro: Zahar; 2015


PS: Tenho outras narrativas com a minha escrita: blogs que não continuaram, escrita da monografia... Pretendo escrever sobre isto depois.
2° PS: Inspirada nos desenhos autorais que acompanham os textos do blog da Karina Kuschnir, fiz a modelagem que acompanha o início deste texto. Não desenho, mas sempre gostei de modelar. Usei massinha de modelar "Soft" da acrilex, Bem mais molenga e fluorescente que as massinhas da minha infância e de secamento quase tão rápido quanto biscuit. No final do texto, foto de post its. 
3° PS: O link do maravilhoso blog da Karina Kuschnir é este: https://karinakuschnir.wordpress.com/
4° PS: Tem um post da Karina Kuschnir sobre o livro Truques da escrita: https://karinakuschnir.wordpress.com/2015/07/15/dez-truques-da-escrita-num-livro-so/
5° PS: Este livro do Becker é divino. Leiam sem moderação! 
6° PS: Sugestões, críticas, comentários e/ou respostas podem ser enviadas para o meu e-mail: artesanatointelectual@gmail.com