Em
2010, ou melhor no 2° vestibular de 2010, eu reprovei a redação.
Nesta época eu prestava vestibular pra Ciência Política e achava
que tinha perdido um semestre da minha vida, que tinha adiado em seis
meses a minha entrada neste curso. Frustrada, me sentia completamente
incompetente! Como eu que sempre gostei de escrever tinha reprovado a
redação?
Nos
meses seguintes ao resultado eu pensava diariamente como a minha vida
seria diferente se eu tivesse ido bem naquela redação. Como a minha
rotina diária seria outra, como meus estudos seriam outros, como
estaria assistindo outras aulas e etc.. E realmente, se eu tivesse
passado naquela redação, eu viveria alguma realidade paralela.
Naquela
época eu achava que a reprovação e suas consequências eram muito
ruins. O que é muito engraçado hoje em dia. Pois o que era encarado
por mim como azar em 2010; em 2016 é visto como muita sorte! Que
sorte não ter passado naquela redação! Claro, que não mudei de
perspectiva do dia para noite.
Não
ter passado naquele vestibular foi tão marcante que até hoje eu
lembro o tema da redação do vestibular do 2°2010. Enquanto não
lembro o tema da redação do 2° 2011 (que foi o vestibular que eu
passei). Mas no fundo, lembrar ou esquecer estes temas, não são
grande coisa. Apenas mostram que eu estava canalizando minhas
energias em lugares equivocados.
Demorou
um longo ano entre a reprovação e a aprovação no vestibular. De
2010 para 2011 várias coisas mudaram e acho sinceramente que a mais
importante delas foi o curso: deixei pra lá a Ciência Política e
descobri a Antropologia! Descobri que queria fazer essa disciplina e
cursar suas matérias que pareciam bem interessantes! (E foram! E
são!)
Pensar a minha trajetória com a escrita, de certa forma é repensar
como a escrita influenciou a minha trajetória. Hoje, graduada em
Antropologia, muito realizada com a minha formação até aqui. Penso
como foi importante reprovar aquela redação do 2º2010. Um tropeço
como este me trouxe literalmente até aqui.
Reprovar
aquela redação foi importante para eu parar um pouco e repensar
tudo que eu estava fazendo, repensar tudo que eu queria fazer. Me fez
também perceber que gostar de escrever, não asseguraria que eu
escreveria bem (de primeira). Aquele erro, me fez voltar a estudar
português e também me deu a oportunidade de assistir aulas de
Sociologia que me levaram até a Antropologia...
Nem
só de erros foi traçada a minha trajetória, nela há acertos
também (né). Porém, lendo os Truques da Escrita do Becker estes
dias, tenho refletido (a partir das considerações de Becker) um
pouco em como esconder ou omitir erros ou dificuldades, além de ser
uma forma de não perceber a importância daquele momento de
aprendizado, pode ser uma forma de aumentar o clima de insegurança
para as colegas que acham que apenas elas têm dificuldade de
escrever, seja com a redação do vestibular e/ou com a redação
acadêmica.
Hoje
em dia, eu não sei muito bem o que significa quando alguém diz que
tem dificuldade de escrever. Mas eu sei, não apenas porque o Becker
disse, que muito dessa dificuldade vem da romantização que se faz
da atividade da escrita. Como se para escrever bem, fosse necessário
escrever tudo da melhor forma possível logo na primeira vez.
Escrever
bem, ou melhor ESCREVER, é muito mais sobre REESCREVER. Entretanto,
isto não parece estar tão difundido pelo meio acadêmico e
pré-vestibulandico. Sei que o livro do Becker é de 2015, e tive
realmente muita sorte de tê-lo encontrado em uma grande crise
durante a escrita da minha monografia. Eu adoraria ter lido ele e
2010. Ou em 2007, ou em 2001.
No
capítulo 3 “A única maneira certa” o Becker fala que as escolas
ensinam os estudantes que a redação é como uma “espécie” de
teste: “(…) o professor passa o problema e você tenta resolver,
e aí vai pro problema seguinte. Uma chance por problema. Refazer o
teste é, de certa forma, ‘trapacear’(...)” (página 72),
principalmente se há alguma orientação sobre como melhorar aquela
redação.
Não me prolongarei no argumento de Becker neste trecho (que é uma
falsa premissa de que existe uma resposta certa ou uma melhor
maneira), que colabora para construir o argumento do capítulo (que é
que não há uma única maneira de escrever); pois, o que eu gostaria
ter conhecido antes, naquela época da redação de vestibular que
reprovei era que TUDO BEM não ir bem em um texto que você escreveu
em uma seleção e não teve a chance de reescrever.
Redações
em vestibular talvez sejam muito mais sobre conseguir organizar
ideias em um momento de pressão do que sobre escrever bem. A vida é
muito mais densa que um vestibular, há novos/outros vestibulares e
oportunidades! Na vida e na escrita não é preciso acertar na
primeira vez, é possível reescrever o que deu errado,
denotativamente e conotativamente.
Se
permita reescrever, se permita reescrever sua trajetória, se permita
reescrever sua trajetória com a escrita! Onde seus tropeços te
levaram? Ou te levarão?
Cordialmente,
Andreza
Referência bibliográfica: Becker, Howard S. Truques da escrita: para começar e terminar teses, livros e artigos/ Howard S. Becker;tradução Denise Bottmann; revisão técnica Karina Kushnir. - 1.ed - Rio de Janeiro: Zahar; 2015
PS: Tenho outras narrativas com a minha escrita: blogs que não continuaram, escrita da monografia... Pretendo escrever sobre isto depois.
2° PS: Inspirada nos desenhos autorais que acompanham os textos do blog da Karina Kuschnir, fiz a modelagem que acompanha o início deste texto. Não desenho, mas sempre gostei de modelar. Usei massinha de modelar "Soft" da acrilex, Bem mais molenga e fluorescente que as massinhas da minha infância e de secamento quase tão rápido quanto biscuit. No final do texto, foto de post its.
3° PS: O link do maravilhoso blog da Karina Kuschnir é este: https://karinakuschnir.wordpress.com/
4° PS: Tem um post da Karina Kuschnir sobre o livro Truques da escrita: https://karinakuschnir.wordpress.com/2015/07/15/dez-truques-da-escrita-num-livro-so/
5° PS: Este livro do Becker é divino. Leiam sem moderação!
6° PS: Sugestões, críticas, comentários e/ou respostas podem ser enviadas para o meu e-mail: artesanatointelectual@gmail.com
2° PS: Inspirada nos desenhos autorais que acompanham os textos do blog da Karina Kuschnir, fiz a modelagem que acompanha o início deste texto. Não desenho, mas sempre gostei de modelar. Usei massinha de modelar "Soft" da acrilex, Bem mais molenga e fluorescente que as massinhas da minha infância e de secamento quase tão rápido quanto biscuit. No final do texto, foto de post its.
3° PS: O link do maravilhoso blog da Karina Kuschnir é este: https://karinakuschnir.wordpress.com/
4° PS: Tem um post da Karina Kuschnir sobre o livro Truques da escrita: https://karinakuschnir.wordpress.com/2015/07/15/dez-truques-da-escrita-num-livro-so/
5° PS: Este livro do Becker é divino. Leiam sem moderação!
6° PS: Sugestões, críticas, comentários e/ou respostas podem ser enviadas para o meu e-mail: artesanatointelectual@gmail.com